Redenção

É longo mas vale a pena. Depois de escrever artigos sobre assuntos diversos arrisco contar uma história, fictícia, ou não.

Divirtam-se.

"Era manhã de domingo. O Sol brilhava forte e apesar da espessa neblina que por hora atrapalhava a visibilidade, aquecia a tudo e todos, provendo um clima agradável. Ele acordara cedo e ainda na cama olhando para as estrelas florescentes que brilhavam coladas no teto do seu quarto reviveu algumas lembranças amargas dos últimos 2 anos. Aguardava o dia da redenção e não fazia idéia do que lhe estava reservado.

Levantou, Lavou os olhos, voltou pro quarto, pegou as havaianas, Foi até a cozinha, preparou o leite, primeiro o achocolatado, soluto, depois o leite, solvente, como aprendera nas idas aulas de química do ensino médio, voltou ao banheiro, fez a barba, tomou um banho, esqueceu a toalha...Correu os olhos no hall, todos em casa ainda dormiam, o domingo da família começava às 8:30h quando todos levantavam para irem juntos à escola dominical, Saiu pulando de tapete em tapete, evitando molhar o chão.

Ele não iria com a família para a Escola Dominical, não naquele domingo...

Acompanhado de um grande amigo, que apesar de alguns anos mais velho, dividira com ele momentos importantes e inesquecíveis da sua infância, Adolescência e agora de sua juventude, tinha ele na ocasião pouco mais de 20 anos, lançaram-se à estrada para uma viagem, um percurso conhecido, uma viagem que ele fez todos os dias durante 5 anos, a mesma rodovia, o mesmo pedágio, a mesma paisagem, as mesmas árvores, entretanto, naquela manhã fria e ensolarada de domingo a viagem tinha outros propósitos, um deles era participar da Escola dominical em outra igreja, convidado pelo amigo que o acompanhava, o outro propósito, por hora, ele ignorava completamente.

Seu grande amigo dirigia o veículo, era um excelente amigo, companheiro de todas as horas, nem sempre se entendiam e concordavam em tudo, porém havia e houve por muitos anos enquanto eram, uma cumplicidade profunda entre eles. O convite para acompanhar o amigo naquela viagem veio por acaso, pelo simples fato de precisar de uma companhia, uma boa companhia para a viagem.

O percurso foi tranqüilo numa via bem sinalizada e pavimentada, demorava em média 40 minutos, naquela manhã durou pouco mais de uma hora, justamente porque foram conversando despreocupadamente curtindo o momento e ouvindo boa música.

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Eu não me lembro o dia pra situar esse momento na história. Alguns especulam que seja um simples conto criado para estimular nosso imaginário, talvez algum conto Irlandês, eu, porém, creio piamente e sei que é de fato uma história real, pois ouvi dos lábios do seu protagonista, aquele que viveu a história. Eu sempre ouvia dele que era uma história pra ser sempre contada pelos pais aos filhos por todas as gerações da nossa família, ele fez questão que fosse assim. Contou-me num dia da minha adolescência. Uma história que contada hoje, ontem ou daqui a 50 anos teve e terá o mesmo efeito, o mesmo sentimento sobre os ouvintes, dizia ele que foi naquele momento que toda a história da vida dele se completou, por isso, fazia tanta questão que esse conto/história fosse transmitido pra todos os novos rapazes da familia. Pra que a paixão daquele primeiro olhar que foi forte o suficiente pra sobreviver durante toda a vida deles nunca se apague, antes perpetue nos corações daqueles que só existem por que são frutos daquela paixão.

Enquanto ele me contava, seus olhos brilhavam, as mãos flutuavam como que tateando no ar, ele com os olhos fechados respirava fundo como se ainda pudesse sentir no íntimo o perfume dela, como se ainda pudesse tocar o cabelo dela, que segundo ele tinha um aroma entorpecente, como se ainda pudesse tocar as mãos dela, mãos que eram tão macias que dava medo de machucar ao acariciá-las. Ela já não era quando esta história me foi cantada, mas tenho pra mim que ele ainda tinha na mente um retrato perfeito da sua face. Contou-me todos os detalhes dessa viagem, do companheiro, dos motivos porque fora junto, disse também que nunca vira em toda sua vida, antes ou depois desse dia, uma manhã tão bela e atraente como aquela.

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Ao encontra-la, como sempre acontecia com ele, por ser demais tímido, não olhou-a nos olhos. Simplesmente um cumprimento formal, porém passou o tempo todo fitando-a, admirando seus belos olhos. Ele me disse e frizou bem que foi naquele momento no primeiro olhar que o pensamento de considera-la como uma futura namorada passou-lhe pela cabeça.

"O sol que brilhava refletia nos olhos dela, grandes, redondos e lindos. Não podia deixar de admirar tamanha beleza e perfeição era como se o sol estivesse lá no alto apenas pra faze-la brilhar."

Sinceramente não me lembro de todas as palavras ditas por ele sobre esse encontro, mas a parte que mais me tocou e inspirou para registrar a história foi ouvir dele que Casamentos não se dão simplesmente por belos olhos grandes e brilhantes, não bons casamentos. Casamentos como o deles que duram quase três vezes mais do que ele tinha de vida quando a conheceu são feitos de: bom relacionamento, perfeita cumplicidade e admiração profunda. Durante todo aquele dia ele disse ter reparado em cada movimento dela, cada detalhe, detalhista que era, foi devidamente observado, ouvia todas as palavras que ela dizia, pesava-as no íntimo e assim construiu uma idéia da personalidade dela.

Foi embora admirado e praticamente apaixonado. Conhece-la mudou completamente a vida dele, trouxe de volta a esperança. Ele amou-a dai em diante por todos os dias da sua vida, mesmo quando ela já não era.

Algo que ele nunca deixou de destacar e dizer era que, dela, ele ouviu a melhor das escolhas que deve ser feita quando se esta apaixonado: "Vamos Orar". Ele também costumava dizer que estar com ela era seu maior prazer, mesmo quando estavam brigados e desentendidos, porque deixa-la nunca foi uma opção. Bastava uma noite de silêncio para resolver todos os problemas. E mesmo com problemas, estar ali, ao lado dela, era melhor do que estar em qualquer outro lugar do universo."

Guto Pagiossi. ;)